11 Nível de uso
É a faixa lingüística de expressão em que a palavra ou a acepção é empregada. O dicionário informa os seguintes níveis de uso nas palavras, locuções e acepções que averba: sentido absoluto abs.; linguagem formal frm.; linguagem informal infrm.; jargão da droga drg.; linguagem policial, de delinqüentes ou de criminosos cr.; tabuísmo tab.; uso impróprio impr.; linguagem eufemística euf.; pejorativa pej.; ironia iron.; palavra ou acepção jocosa joc.; linguagem hiperbólica hiperb. (Por vezes, algumas destas informações podem juntar-se numa única acepção: por exemplo, infrm. joc.) A seguir, a ordem em que geralmente aparecem as informações de nível de uso, quando mais de uma ocorrer em conjunto num verbete ou acepção: as da faixa 1 em primeiro lugar, as da faixa 4 em último. No caso de dois elementos da mesma faixa se encontrarem na mesma acepção (por exemplo: impr. e euf.), os redatores receberam instrução de utilizar a ordem estabelecida a seguir:
1 abs. frm. infrm. drg.
cr. tab.
2 impr. euf. pej.
3 iron. joc.
4 hiperb.
11.1 O sentido absoluto restringe o uso da acepção à denotação de um único elemento dentre a coletividade a que ela pertence. Por exemplo, nas frases abaixo a bomba, liberem a pílula e o Senhor esteja convosco, bomba (= bomba atômica), pílula (= pílula anticoncepcional) e Senhor (= Deus) estão usadas, não em sentido lato, mas no absoluto.
11.2 Linguagem formal é a de uso culto, literário ou não literário (tirante o tecnoleto), a empregada no vocabulário poético e no vocabulário solene (oratória acadêmica, religiosa etc.) ou na linguagem dita esmerada.
11.3 Linguagem informal
é a denominação genérica que usamos neste dicionário
para as palavras, locuções ou acepções classificadas
em outras fontes como: popularismos, plebeísmos, gíria, linguagem
familiar e linguagem infantil:
a) São popularismos ou coloquialismos os vocábulos,
próprios da língua popular, que não fazem parte do uso
culto ou formal. Exemplos: pernóstico, ror, salafrário,
revertério etc.
b) Plebeísmos são os vocábulos ou locuções
usados na língua popular e tidos freqüentemente pela língua
culta ou formal como grosseiros ou algo grosseiros, vulgares ou triviais, mas
que não chegam a ser tabuizados. Exemplos: avacalhar, estar
sem saco, aporrinhar, bunda-suja etc.
c) Gíria são palavras ou locuções
de linguagens especiais (socioletos), criadas ou adaptadas para colorir acepções
ou ocultar a significação de outras palavras ou locuções,
de modo a serem entendidas por determinado segmento ou grupo social apenas.
(Excetuam-se deste contexto, por integrarem, neste dicionário, classificação
à parte, os vocábulos do jargão dos viciados em drogas,
criminosos e presos, e os tabuísmos.) Exemplos de palavras de gíria
no Brasil: crocodilagem ('falsidade, traição'), mina
('mulher, namorada'), rolar ('acontecer'), descolar ('conseguir')
etc. Exemplos em Portugal: trombil ('cara'), lingrinhas ('indivíduo
mirrado'), larilas ('efeminado'), carcanhol ('dinheiro') etc.
d) Linguagem familiar são palavras ou expressões
usadas no âmbito doméstico e encontradas na literatura, no teatro
ou em atividades afins, quando é preciso recriar com realismo a atmosfera
familiar.
e) Linguagem infantil são palavras e expressões
que entraram no léxico originadas de simplificações de
vocábulos feitas por adultos com o fito de ajudar na comunicação
com as crianças, ou que são efetivamente criações
vocabulares infantis; caracterizam-se freqüentemente por redobro: cocó
('galinha'), pipi ('pênis; urina'), au-au ('cão'),
bumbum ('nádegas'), vovô etc. Embora identificadas
no dicionário como linguagem informal (infrm.), neste caso, uma
nota no campo do USO informa ao leitor tratar-se de linguagem
infantil:
11.4 Linguagem policial, do crime e da droga - Conjunto de palavras e locuções do jargão dos viciados em drogas, criminosos e presidiários etc., que faz parte de um grupo especial da linguagem informal com classificação à parte desta, antes minuciada. Exemplos: parango ('pacote de maconha'), mula ('correio de drogas'), truta ('companheiro de crime, colega de cadeia'), gato ('ladrão de carteiras') etc.
11.5 Tabuísmos - São as palavras, locuções ou acepções tabus, consideradas chulas, grosseiras ou ofensivas demais na maioria dos contextos; trata-se dos palavrões e afins, vocábulos que se referem em geral ao metabolismo orgânico (merda, cagar), aos órgãos e funções sexuais (caralho, esporra, pica, boceta ('vulva'), colhão, cona, foder, pívia, crica, pachoucho etc.), mais disfemismos pesados como puta, veado ('homossexual'), cabrão ('traído'), paneleiro ('homossexual'); expressões tabuizadas (puta que pariu) etc.
11.6 Uso impróprio é a indicação de que determinada acepção deve ser evitada por se tratar de um erro. Artelho significa especialmente 'dedo do pé'. É impróprio usar tal palavra no sentido de 'tornozelo'. Meteorito é um 'fragmento de meteoróide', sendo impróprio utilizar tal palavra no sentido de 'fenômeno luminoso causado pelo atrito de um meteoróide com a atmosfera terrestre'.
11.7 Eufemismo é uma palavra ou locução mais agradável, de que se lança mão para suavizar ou minimizar o peso conotador de outra palavra ou locução menos agradável, mais grosseira ou mesmo tabuística: dianho e indivíduo (por 'diabo', que é palavra que o povo procura evitar), defunção ('falecimento'), partir e sossegar ('morrer') etc.
11.8 O nível pejorativo é característico de palavras, expressões ou acepções que são (ou, na dependência do contexto, podem ser) grosseiras, ofensivas, ferinas ou preconceituosas: abutre ('pessoa desalmada'), acadêmico ('falho de originalidade'), açougueiro ('dentista ou cirurgião inábil'), milico, cabeça-de-bagre, afoxé ('candomblé tido como de qualidade inferior') etc.
11.9 A ironia tanto pode ser a) o uso de palavra ou frase
de sentido diverso ou oposto à que deveria ser empregada, para definir
ou denominar algo, ressaltando do contexto (por exemplo, chamar de alemão
um atleta negro; chamar baixinho a alguém especialmente alto etc.);
b) o uso de palavra, expressão ou acepção de caráter
sarcástico; ou c) o uso de palavra ou expressão zombeteira
para se elogiar, lastimar ou repreender (asteísmo).
11.10 Jocoso diz-se de acepção que tem caráter de chiste, motejo, troça (sem ser pejorativa) ou simplesmente espirituosa. Exemplos: nabo ('indivíduo ignorante'), lúzio ('olho; olhar'), fantasma ('pessoa muito magra ou branca'), godeme etc.:
11.11 As acepções hiperbólicas apoucam ou exageram, dramatizando, um fato ou um acontecimento. Exemplos: caminhão ('grande quantidade'), século ('período de tempo dado como longo') etc.
11.12 As indicações de nível de uso pospõem-se às de regionalismo, quando ambas existentes, e vêm sempre em itálico minúsculo e abreviadas: